Artigo - Obesidade infantil, um desafio secular

 A obesidade infantil já é considerada um dos maiores desafios do século 21 e um problema de saúde pública. Trata-se de uma doença complexa e multifatorial com proporções alarmantes, tendo aumentado em dez vezes o número de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos obesas no mundo, nos últimos 40 anos. A obesidade entre crianças e adolescentes vai além de somente apresentar riscos para a saúde adulta desse público, já que está associada a 26 doenças crônicas.

Imagem cedida por Freepik.com

Conforme a pesquisa da Federação Mundial de Obesidade, o número de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos acima do peso deve pular de 220 para 268 milhões em menos de uma década, sendo que, desse total, 91 milhões serão obesos. Ainda conforme o levantamento, 28 milhões dos pequenos terão hipertensão, 39 milhões estarão com gordura no fígado e 4 milhões com diabetes tipo 2, doença até então quase exclusiva de gente grande. 

Se, antes, a preocupação relacionada ao acúmulo excessivo de gordura corporal era, justamente, que essa condição acompanhasse a criança quando adulta, hoje, as projeções alertam, inclusive, para a redução da expectativa de vida. É inevitável associar obesidade infantil à falta de estímulo ao aleitamento materno, má alimentação e sedentarismo, legados da sociedade contemporânea. Embora o Ministério da Saúde recomende o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e a manutenção da amamentação até os dois anos, pesquisas apontam que as mães brasileiras amamentam, em média, menos de dois meses. 

O desmame precoce e, em consequência, a introdução de alimentos inadequados são fatores determinantes para a obesidade infantil. Não é à toa que cada mês de amamentação materna reduz em 4% o risco de excesso de peso. Outra vantagem em prolongar o ato está no autocontrole sobre o consumo de alimentos, desenvolvido pela criança, pois, durante a mamada, ela controla o quanto consome. 

O ritmo acelerado da sociedade atual, marcado por rotinas exaustivas e excesso de tarefas, contribui para que os pais, frequentemente, ofertem alimentos processados e com alto teor calórico aos filhos. Já foi a época em que a alimentação infantil era marcada por bons nutrientes. Cada vez mais, o açúcar, a gordura e o sódio ganham espaço. Basta saber que 32,5% das crianças com menos de 2 anos ingerem bebidas adoçadas ou refrigerantes cinco vezes por semana – no mínimo. 

Nesse mesmo compasso, seguem os jovens, quando o assunto é exercício físico: 80% não praticam atividade física com frequência e intensidade adequadas para a idade. Também é alarmante o tempo de exposição dos pequenos às telas, sendo que, nada menos que uma em cada três usuários de internet no mundo é criança. 

Os pais têm a responsabilidade de limitar o tempo de uso de internet diferenciar quando a televisão e o videogame, por exemplo, deve ser um passatempo ou um outro tipo de recurso.  A prática de atividade física deve ser incentivada com hobbies, como dança, futebol, natação e, até mesmo, brincadeiras ao ar livre, situação que já foi muito comum para a população.

Os hábitos alimentares mais saudáveis devem ser mantidos em família e não somente entre as crianças e adolescentes. É importante substituir os alimentos ricos em gorduras e açúcares por frutas, verduras e legumes. A princípio, é possível inserir as frutas com sucos e vegetais em suflê ou no feijão para as crianças se acostumarem.  

O ideal é a família manter hábitos saudáveis, praticar esportes e se alimentar bem, fazendo com que os filhos tenham familiaridade com o estilo de vida.  O maior estímulo aos pais pode ser os filhos seguirem seus exemplos, em vez de conselhos. 

*Texto de Vaniele Simão para a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas Gerais em 2019.

0 Comentários